terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Alice ainda está a dormir



Alice ainda está a dormir. Há um livro caído no chão onde está situada a farmácia de serviço, os livros na adolescência tem o mesmo efeito das rodelas psicadélicas, Gostava das rodelas de formato laranja, uma vez deixei cair uma dessas rodelas nas escadas do prédio velho onde vivo, depois o rato que anda pela estante dos livros velhos comeu a tal rodela, há quem se pense Napoleão ou S Francisco de Assis. O rato da estante julgavas se queijo parmesão, entretanto Alice ainda está a dormir, ao lado há um pequeno mapa dobrado, há manchas de vómito na península ibérica. Alice está do outro lado, se fosse possível ler-lhe o pensamento, pensaria ela num velho teatro vitoriano a comportar-se como uma rapariga de casa de alterne que lança o soutien na direcção dos projectores
Na farmácia de serviço há um velho a tocar gaita de beiços, tenho o som do rio em mim, por causa da minha crónica timidez é o rio que faz a declaração de amor á pequena Alice. O rio fica calmo, não quer acordar a criança, essa criança casta e apetitosa de vícios escondidos a despertar a poesia nos homens que tem a alma "suja" ou simplesmente as fantasias convertidas em culpa, o nosso Senhor Jesus Cristo deu o corpo ao manifesto pelas nossas fantasias, Alice parece uma Madalena, pego num pequeno estojo de cosmética e pinto-lhe os lábios, o roxo fica-lhe bem. Todas as mulheres são belas a dormir, tiro do maço um cigarro, com o fumo desenho peixes e vultos eróticos, parece que aquelas formas saiem dos olhos fechados de Alice, toco o seu corpo e sinto que nele se inventa uma nova maresia, debaixo da porta do quarto há um envelope, dentro metade de uma fita métrica, o chapeleiro louco mudou de emprego, agora é o alfaiate paranóico, as suas roupas cheiram a pão bolorento, o inverno demora a passar e Alice ainda dorme, o ritmo do seu coração é a marcha dos soldados da rainha das lingeries triumph, vou preparar um chá de ervas, o vapor do chá como o da chaminé dos barcos que navegam nos olhos, nunca disse a ninguém que pela casa anda um travesti fantasma, também se chama Alice, gosta de comer bolachas ou costuma com as bolachas fazer o lançamento do disco. Em breve realizasse o campeonato de futebol dos vultos com pé de atleta, não sei se Alice gosta de futebol, não sei quando vai acordar, sei que o alfaiate paranóico vai desenhar o equipamento dos vultos do futebol que jogam nas paredes, já vi um jogo nas paredes de um WC, o publico a pegar em frases como quem pega em tomates e a lançar na cara dos tais vultos. ( liga-me no intervalo) o teu corpinho sabe bem, sabe a peixe no forno e a flores nos cornos dos touros, os cornos dos touros lembram a selvagem poesia Espanhola. Alice nunca leu Lorca, talvez o encontre nas viagens do seu dormir. Entretanto saio, vou jogar bilhar, as andorinhas inspiram-me, gostava de imaginar uma pergunta para Alice: - Quando acordares que vestido vais escolher? Sabes que o alfaiate paranóico vive num guarda vestidos, é um t2, uma renda antiga dessas que ainda se praticam em Lisboa, o alfaiate paranóico agora deu-lhe para rezar o terço, no bolso de um casaco velho há uma folha rasgada a meio, é uma receita com a fórmula do queijo parmesão, com os fios do queijo parmesão ele fez umas calças para o conde da braguilha aberta um personagem asqueroso, muito estimado pelos cães e presidentes de câmara ou até candidatos ás eleições para o parlamento, Alice ainda não mexe uma pálpebra. Alguém sabe porque está a dormir tanto tempo?! se eu telefonar para a brigada dos ratos da desintoxicação, espero que não seja tarde de mais, são dez horas da noite, na cozinha da casa de Alice a chaleira do chá está a ferver, finalmente Alice começa a acordar, as suas primeiras palavras são: - Traz-me um espelho, quero embaciar o espelho, lábios desenhados, uns lábios que parecem carnudos como saídos da boca da loira Marlene a velha actriz que vivia com um cineasta alemão, Alice afina a voz, está a preparar-se para ir á ópera, Pavaroti usa uma gravata feita com fios feitos de queijo parmesão, os sapatos de Alice cheiram aquele odor, o chule fonte de inspiração surrealista, o pequeno almoço do conde da braguilha aberta são meias descosidas, estendal do prédio uma colecção de meias sintéticas, o conde tem vagas noções de nutrição... Alice parece que anda num mundo paralelo, enquanto ela andou a vaguear a mãe dela tentou ligar-lhe várias vezes, ligou para uma clínica privada e foi disfarçada de sem abrigo ao casal ventoso saber se a sua Alice estava a consumir? Alice estava no seu quarto secreto, foi levada da via latina até ao velho quarto por um velho xamã, quando não era um velho xamã era um carteiro, uma pessoa igual a todas as outras e por outro lado um super dotado da mentira, Alice por ele quebrava todos os vidros, a maior mentira dele foi a maior verdade que flutua em muitos lábios, ela ser o amor da sua vida, mas a mentira dele pareceu soar como a voz da rainha de copas - cortem-lhe a cabeça! Alice olha uma revista cor-de-rosa, se ainda estivesse naquele seu sono profundo pediria ela ao alfaiate paranóico que lhe fizesse um daqueles vestidos o mais transparente possível, por favor Alice, a transparência é útil, mas é uma coisa exagerada, sabes como é, sabe sempre ao mesmo, é fútil a ilusão das actrizes de folhetim, descascar cenouras com o coelho de Março seria muito melhor. O xamã o super dotado da mentira que dava de dez a zero ao Belzebu das tretas

 Lobo

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